sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

É MAIS FÁCIL SER COMO TODA A GENTE, MAS…

MICHAEL BARRETT
1926-2O04

É MAIS FÁCIL SER COMO TODA A GENTE, MAS…

É mais fácil ser como toda a gente, mas é impossível abdicar dos dons que tantos, em vão, desejam. Também foi por isso que Michael Barrett tão depressa voou, como nos sonhos, como se esborrachou na rigidez da incompreensão. A diferença exalta-se, sempre que os conceitos se põem em confronto. Valores, aspirações e objectivos são, necessariamente, outros para o artista que, usualmente, não se pauta pelas normas indiscutíveis para os demais elementos da sociedade. Também não é comum defender, como mais válida, a sua forma de estar no mundo. Limitando-se a aceitar a peculiaridade do seu pensamento, nem por isso o impunha a terceiros. A margem do que muitos entendem como importante, o operador estético ocupa, sempre, o centro de um mundo pessoal.
Presumo que tenha sido através de Bonnie o contacto mais estreito com Fernando Pessoa. A semelhança do que aconteceu com milhares de outros leitores, Michael Barrett deixou-se fascinar pelo romantismo do autor de "a Mensagem", pelos seus heterónimos, pela sua capacidade de ser e estar em muitos lugares a fazer coisas diferentes. A ubiquidade do poeta traduzida pela facilidade com que, ao mudar de pele, também mudava de pensamentos, formação, aspirações e vontades, encantava o Pintor. Acresce que a língua inglesa que ambos dominavam e o facto de se rever em Alberto Caeiro e ter em Álvaro de Campos e Ricardo Reis veículos para deliciosas divagações, conquistam Mike para a pintura exaustiva dos rostos de Pessoa.
Os primeiros trabalhos mostram o modelo com as suas principais características, isto é, o típico bigode, os óculos à época, o sabido chapéu. Poucos traços e raras pinceladas certeiras e eis que Fernando Pessoa emergia nas telas de Barrett. Em todo o caso sem grandes rasgos ou sem inovações marcantes. Muitos outros autores, depois de Almada, já se haviam dedicado a retratar, de cor, o poeta. Mais gordo ou mais magro, mas sempre apelando para os elementos que, mesmo com grande inépcia, acabam por evocar-lhe o rosto carismático.

in Michael Barrett - Um Génio Marginal
do autor Edgardo Xavier
membro da AICA
edição da Galeria Sacramento

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Michael Barrett, Um Génio Marginal