Michael Barrett
1994

Nasci em Paris em 1925, fruto da união de uma senhora inglesa com um senhor francês, que nunca cheguei a conhecer, facto que me marcou e influenciou o meu comportamento, a minha personalidade e até a minha pintura.
Aos 8 anos encontrava-me em Barcelona, acompanhado por minha mãe e avó, quando eclodiu a guerra civil de Espanha. Passado algum tempo mudámo-nos para Seats, perto de Barcelona, e a guerra encontrava-se no auge. Fomos evacuados por um navio de guerra inglês e levados até Marselha. Lá, por decisão materna, embarcados para Portugal num navio holandês.
Vivemos em Lisboa, depois no Estoril, depois em Cascais e finalmente em Buarcos (Figueira da Foz), onde resido actualmente.
Tinha, pois, 9 anos quando cheguei a Portugal, sem saber uma palavra de português! Como não gostava de ficar em casa - para grande desgosto de minha mãe - fui-me habituando aos miúdos do bairro, pelo que posso afirmar que a minha base cultural da língua portuguesa foi a rua!
Mais tarde estive no "Julian School" durante quatro anos e meio, mas como fui sempre um péssimo aluno, a minha mãe resolveu tirar-me de lá, tendo-me arranjado um professor particular que me ensinava o português, matemática, geografia, história, etc.. Tive portanto uma educação formal muito limitada, e até aos vinte anos pouco mais fui do que um "playboy", na Costa do Estoril. Nessa altura comecei a trabalhar numa companhia, como intérprete; depois fui tradutor, por uns meses, na TWA; mais tarde, caixeiro viajante, tendo-se seguido vários outros empregos temporários, até que trabalhei numa firma distribuidora de filmes, onde fui friamente explorado, tendo-me então decidido a nunca mais ter patrões!
Um dia, numa conversa de café, um amigo de Cascais - o arq. Gil Graça - sugeriu-me que dedicasse os meus tempos livres a pintar, e dispôs-se mesmo a arranjar-me um bloco, uns lápis e umas tintas. Eu que me considerava uma nulidade em matéria de arte - devido à "falta de jeito para o desenho, que me obrigava, quando aluno do colégio St. Julian" a pedir ajuda aos meus colegas - achei a ideia absurda e nunca mais voltei a pensar no assunto. Alguns dias depois, cumprida a promessa que me fizera, o arq. Gil Graça, apareceu em minha casa munido do material indispensável à pintura e para meu espanto, algumas semanas mais tarde, já me encontrava a trabalhar numa aguarela, em frente à baía de Cascais e - assombro! -não me estava a sair tão mal como isso!... Foi o princípio da minha "viagem" à descoberta da pintura, de mim mesmo e dos outros.
Mas, a vida continuou a desenrolar-se, paralelamente às minhas descobertas no campo artístico e, algum tempo depois de ter conhecido uma senhora sueca, casávamo-nos; tempo depois a família aumentou com o nascimento do Niki - João Nicolau - e finalmente com a vinda da Teresa Cristina. Apesar de nem eu nem a minha esposa possuirmos nacionalidade portuguesa, ambos o éramos por opção. Apesar de estrangeiros, os nossos filhos viveram e cresceram aqui e hoje são portugueses de nascimento e de coração. À parte de alguns interregnos mais ou menos involuntários e a par com o desenvolvimento e crescimento da família, evoluía a minha pintura e se no início eu era "uma pessoa que pinta" hoje sinto-me pintor.
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